Ai Portugal, Portugal
1. Em estudo recente concluía-se que os portugueses eram o povo da União Europeia que menos lia. O que não deixa de ser caricato, pois dispomos e dispusemos sempre na nossa língua de alguns dos melhores autores, fosse em prosa, verso ou mesmo ensaio.
Há tempos, contaram-me que, em conversa com um cidadão de origem russa discorria ele sobre Camões e Pessoa quando o interpelaram sobre a sua possível formação na área das letras – pois bem, ela era da área das ciências, mas não tardou em explicar que, na Rússia, os autores de língua portuguesa fazem parte de qualquer currículo do Ensino Básico.
Nós por cá é que vamos alegremente negligenciando a nossa língua, a nossa literatura e os nossos autores permitindo que se esteja a diabolizar a disciplina de Português nas escolas como já há muito vem acontecendo com a Matemática. Enquanto isso, achamos um fenómeno engraçado o da linguagem “smsiana” criada pelos nossos jovens, cheia e xx, kk e cujas palavras acabam, invariavelmente em h.
É claro que esta é a regra geral. Claro que há quem prescinda do imediatismo da televisão ou dos videojogos e opte por ler, ou mesmo que faça ambas as coisas. Mas não basta. Todos temos que contribuir para que a leitura se torne numa actividade nacional. Pode residir aí a solução para alguns dos muitos defeitos dos portugueses: mesquinhez, falta de ambição e má-educação.
Eduquemo-nos e eduquemos os nossos jovens e, talvez um dia poderemos discutir com alguém o pragmatismo de Leão Tolstoi ou o romantismo histórico de Boris Pasternak.
2. Desde o início deste ano que é proibido, em Espanha, fumar em quaisquer recintos públicos. Mais uma vez, os nossos vizinhos demonstram estar um passo à nossa frente. Perceberam, bem mais cedo que nós, que fumadores e não-fumadores têm direitos iguais: se uns têm o direito de fumar, e isso é incontestável, os outros têm que ter direito a não fumar, o que não acontece. Para capricho dos outros, os muitos não fumadores têm que levar com o tabaco que não querem.
Espanha levou a cabo um acto de elementar justiça. Não sei quanto tempo ainda é preciso para que Portugal lhe siga as pisadas.
3. Em plena campanha eleitoral para as autárquicas, e numa das inúmeras reportagens a dar conta do contacto dos candidatos com o povo, passou-se a seguinte cena: um popular aborda Francisco Louça e, entre outras palavras de apreço, atira-lhe um “então você que foi seminarista…”. Frase que não conseguiu acabar pois veio ao de cima o ódio visceral de Louça, que disse de pronto: “Isso é uma calúnia!”.
Pois bem, que Louça não andou no seminário, é verdade. Também não sei como surgiu essa teoria que, aliás, se encontra bem enraizada. Agora, considerar uma calúnia, uma ofensa, um sacrilégio a eventualidade de ter andado é que também não posso compreender. Ou melhor, até entendo porque penso mesmo que o Louçã não passa de um extremista que, de forma populista, vai ganhando simpatia à custa da demagogia das causas fracturantes.
O bloquista exprimiu nesse episódio simples toda a sua essência: um ódio mortal a tudo o que não represente a sua perversa ideologia – e ainda nos quer vir falar de moral e de tolerância? Eu, que sou católico, nunca me sentiria ofendido se me perguntassem se era judeu, ou protestante, ou testemunha de Jeová. Mas acontece que sou um verdadeiro democrata, pelo que respeito todas as pessoas independentemente das suas escolhas. Assim fossem todos os que beneficiam da democracia para a atacar…
Há tempos, contaram-me que, em conversa com um cidadão de origem russa discorria ele sobre Camões e Pessoa quando o interpelaram sobre a sua possível formação na área das letras – pois bem, ela era da área das ciências, mas não tardou em explicar que, na Rússia, os autores de língua portuguesa fazem parte de qualquer currículo do Ensino Básico.
Nós por cá é que vamos alegremente negligenciando a nossa língua, a nossa literatura e os nossos autores permitindo que se esteja a diabolizar a disciplina de Português nas escolas como já há muito vem acontecendo com a Matemática. Enquanto isso, achamos um fenómeno engraçado o da linguagem “smsiana” criada pelos nossos jovens, cheia e xx, kk e cujas palavras acabam, invariavelmente em h.
É claro que esta é a regra geral. Claro que há quem prescinda do imediatismo da televisão ou dos videojogos e opte por ler, ou mesmo que faça ambas as coisas. Mas não basta. Todos temos que contribuir para que a leitura se torne numa actividade nacional. Pode residir aí a solução para alguns dos muitos defeitos dos portugueses: mesquinhez, falta de ambição e má-educação.
Eduquemo-nos e eduquemos os nossos jovens e, talvez um dia poderemos discutir com alguém o pragmatismo de Leão Tolstoi ou o romantismo histórico de Boris Pasternak.
2. Desde o início deste ano que é proibido, em Espanha, fumar em quaisquer recintos públicos. Mais uma vez, os nossos vizinhos demonstram estar um passo à nossa frente. Perceberam, bem mais cedo que nós, que fumadores e não-fumadores têm direitos iguais: se uns têm o direito de fumar, e isso é incontestável, os outros têm que ter direito a não fumar, o que não acontece. Para capricho dos outros, os muitos não fumadores têm que levar com o tabaco que não querem.
Espanha levou a cabo um acto de elementar justiça. Não sei quanto tempo ainda é preciso para que Portugal lhe siga as pisadas.
3. Em plena campanha eleitoral para as autárquicas, e numa das inúmeras reportagens a dar conta do contacto dos candidatos com o povo, passou-se a seguinte cena: um popular aborda Francisco Louça e, entre outras palavras de apreço, atira-lhe um “então você que foi seminarista…”. Frase que não conseguiu acabar pois veio ao de cima o ódio visceral de Louça, que disse de pronto: “Isso é uma calúnia!”.
Pois bem, que Louça não andou no seminário, é verdade. Também não sei como surgiu essa teoria que, aliás, se encontra bem enraizada. Agora, considerar uma calúnia, uma ofensa, um sacrilégio a eventualidade de ter andado é que também não posso compreender. Ou melhor, até entendo porque penso mesmo que o Louçã não passa de um extremista que, de forma populista, vai ganhando simpatia à custa da demagogia das causas fracturantes.
O bloquista exprimiu nesse episódio simples toda a sua essência: um ódio mortal a tudo o que não represente a sua perversa ideologia – e ainda nos quer vir falar de moral e de tolerância? Eu, que sou católico, nunca me sentiria ofendido se me perguntassem se era judeu, ou protestante, ou testemunha de Jeová. Mas acontece que sou um verdadeiro democrata, pelo que respeito todas as pessoas independentemente das suas escolhas. Assim fossem todos os que beneficiam da democracia para a atacar…